Esta semana fez um ano que estou morando no centro de São
Paulo. Me mudei para um prédio revitalizado pela Centro Vivo próximo ao Largo
do Paissandu. Antes eu morava na Brigadeiro Luis Antônio, na região dos
Jardins. Ao longo deste um ano, respondi diversas vezes as mais variadas
perguntas, de amigos, conhecidos e familiares, sobre por que decidi morar no
centro. Mas não é perigoso? É sujo? E os moradores de rua? E a cracolândia? Mas
e o barulho? Você não tem medo de ser assaltado? De noite não fica vazio?
Minha primeira resposta sempre é: “Eu amo morar no centro de
São Paulo”. E amo mesmo. Mas, sim, é perigoso, como todo centro de uma grande
metrópole. Eu nunca fui assaltado. Mas estou sempre alerta. Sim, tem muitos
moradores de rua. Muitos mesmo. E você passa a conviver com eles. E percebe que
ali realmente se transformou na casa deles. Passa a conhecer cada um e saber
como será abordado por eles. Sim, é sujo. Todo tipo de sujeira. Tem lugares que
os odores são insuportáveis. Tem muito lixo. Nem sempre o sistema de coleta é
eficiente. E alguns moradores de rua espalham o lixo na busca por comida e
outras coisas. A cracolândia também está lá. Ela não é mais uma região, mas um
estado de espírito. Com as intervenções que sofreu no ano passado, ela se
espalhou inclusive por outros bairros da região. Existem crackeiros por toda
parte. São fáceis de reconhecer. Vez ou outra, passando de táxi pela rua
Vitória, entre a São João e a Rio Branco, encontramos multidões de crackeiros.
Semanalmente, tem também a Feira do Rolo. Nela você pode encontrar a maior
variedade de artigos roubados por preços módicos. A feira acontece só até a
polícia aparecer na esquina. Além de tudo disso, há ainda diversas ocupações.
Prédios antigos, que estavam abandonados, ocupados por pessoas que tentam levar
uma vida como você e eu mas que não tem condições de alugar um apartamento
decente nesta cidade cada vez mais cara. Famílias inteiras que dividem um
único cômodo, muitas vezes dividindo esses pequenos espaços com outras
famílias.
Porém, eu ainda acho que o centro é um ótimo lugar para se
viver. Tem transporte para todos os lados, endereçados a todas as regiões da
cidade. Além dos ônibus, são três linhas do metro – amarela, vermelha e azul.
Existem largos e praças – Paissandu, Patriarca, República, Roosevelt, Arouche, Sé, etc.
Diversos serviços são 24 horas – McDonalds, bares, cinemas pornos, Habib’s e
outros. A Paulista está a uma caminhada de apenas 35 minutos. Temos a 25 de
março, a Santa Ifigênia, a Pinacoteca e a Sé. O Sesc Consolação é logo ali. Em
breve teremos o Sesc 24 de maio. É uma oportunidade de conviver com alguns dos
prédios mais charmosos da cidade. O Vale do Anhangabaú é sempre palco de
eventos muito legais. Os governos estadual e municipal estão investindo em
novos empreendimentos culturais como a Praça das Artes, o Teatro da Dança e o
Circo Escola. Tem comida boa e barata (o ITA Comida Caseira é um dos pf’s mais gostosos
da cidade e fica embaixo do meu prédio). Há todo tipo de comida étnica (vide
PASV, Rinconcito Peruano, Almanara, Acrópoles, La Farina, Sukiya e outros). A
Casa da Mortadela fica a uma quadra de casa. O centro está muito bem iluminado.
Tem bancas de revista 24h. O Theatro Municipal e o Centro Cultural do Banco do
Brasil. O Copan e sua padaria estão ali também. A Biblioteca Mario de Andrade
está a poucas quadras. O Estadão sempre aberto. O charmoso Cine Marabá com os
melhores preços da cidade (só falta melhorar a programação). Como se não
bastasse tudo isso, o apartamento em que vivo tem o pé direito alto, voltado
para o miolo da quadra, é extremamente silencioso, amplo e aconchegante.
Aqui tem gente de verdade. Gente diversificada. Gente
diferenciada. Ninguém é igual. Pessoas de todo o mundo estão ali. Italianos que
projetam filmes em lajes. Portugueses interessados na arquitetura e na
diversidade. Nigerianos, coreanos, bolivianos, argentinos, angolanos,
americanos, franceses. Baianos, gaúchos, amazonenses, paraenses, cariocas,
capixabas, rondonienses, mato-grossenses, pernambucanos e potiguares. Gente de todo o país. De todo o mundo. Todos em
busca de um lugar ao sol.
Um comentário:
O centro me encanta! Doido pra voltar aí e aproveitar cada cantinho da doce paulicéia desvairada. Ah, fico feliz que o blog está de volta. Abraço, moço.
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